sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Viva Glamurosa*

Aproveitando a onda o Outubro Rosa, mês que todos falam de como detectar e prevenir o câncer de mama, venho contar minha história que não é de mama. Meu câncer foi de colo de útero. Tudo começou quando meu marido percebeu como se fosse um caroço no colo do meu útero, fui ao ginecologista e de imediato ele achou que pudesse ser alguma ferida por conta da curetagem que fiz, quando perdi meu bebê, pois é ainda teve essa.

Como já estava de mudança para o interior, resolvi deixar para fazer os exames em minha nova morada, para não ter que ficar voltando a São Paulo. Assim que mudamos corri atrás de agendar ginecologista para fazer papa nicolau e outros exames necessários.

Assim que voltou o resultado do papa, o posto de saúde me ligou pedindo pra retornar com o médico, pois ele precisava falar comigo. Achei estranho pois ainda não tinha feito os outros exames ainda, mas retornei. Não consigo descrever a sensação de ouvir: “ Bom vou direto ao ponto, saiu no seu papa que vocês está com com câncer, vou te encaminhar para a universidade para o oncologista analisar a melhor linha de abordagem.”

Meu chão ruiu, de um jeito, que eu não conseguia fazer outra coisa a não ser chorar, chorar muito. Não conseguia contar nem para meu marido, o que o médico falou. Depois de algum tempo, fui parando de chorar e expliquei ao coitado o que tinha acontecido. Eu estava prestes a fazer um ensaio sensual, para divulgação da loja de lingerie Plus Size que estávamos montando, sim porque naquele momento o mais importante era cuidar da minha saúde, em paralelo a isso, estava estudando e fazendo treinos físicos pois queria prestar concurso da polícia Federal. Imagine seus objetivos e metas sendo atingidos por um cometa: O Câncer, é mais ou menos isso que acontece.

A família, e agora? Como contar? Qual a reação deles? Foi difícil para mim contar aos familiares, todos achavam que eu estava fazendo uma brincadeira (quem me dera). Só de fato acreditaram quando mostrei o resultado do exame, e o mais difícil de tudo isso, foi na verdade, encarar os olhares, choros, que para mim dizia: Coitada, está com o pé na cova. Tive que buscar dentro de mim, forças que jamais imaginava que tivesse, para ser forte por mim e por eles. Graças a Deus, apesar disso, sempre tive o apoio incondicional deles todos, principalmente de meu marido, Rodrigo Cortijo, que apesar do desespero que sentia, se mantinha calmo, pesquisando como doido sobre o assunto, tratamentos, procedimentos.

Pois bem, meu ginecologista, Carlos Majolini, apesar de ter me dado de longe a pior notícia da minha vida, foi um anjo, tentou me acalmar, e no mesmo momento pegou o celular e entrou em contato com o oncologista que era seu amigo e especialista em câncer ginecológico, pediu se ele poderia me atender antes de todo os trâmites internos do hospital, e de imediato ele aceitou (muito obrigada Carlos e Juliano) e assim foi na sexta-feira de Páscoa de 2014. Olhou os exames que tinha feito, perguntou se poderia me examinar, e colher biopsia. E assim foi feito. Ali mesmo ele me explicou que poderíamos fazer quimioterapia e depois somente retirar o tumor ou a cirurgia radical, tirando colo, útero, ovários e trompas. Como eu não queria mais ter filhos, decidimos na hora pela cirurgia e me fizeram os pedidos de exames pré-operatórios.

Os exames foram feitos e em junho do ano passado, operei. Foi super demorado o procedimento, foram retirados vários linfo-nódulos. Com um corte do baixo ventre a dois dedos acima do umbigo (inclusive este foi afetado), tive que fazer repouso, levantando da cama apenas para ir ao banheiro e comer. De tanto ficar deitada de repouso, a parte de trás do meu cabelo caiu, e ali estava eu calva. Não curti a ideia e pedi para meu marido passar maquina zero, e assim fiquei carequinha. No começo me incomodava com as pessoas me olhando e colocava, lenço, boina, mas depois percebi que era só cabelo, e perto do que estava passando não significava nada pra mim. E saía de casa com a careca exposta, com um belo batom, e brincos. E por algum tempo adotei esse visual, até que voltasse a nascer cabelo na falha. Meu médico ainda brincou comigo, porque não precisei fazer quimioterapia, nem radioterapia, e antecipei as coisas e fiquei careca. Aos poucos você vai se reerguendo e começa a fazer caminhadas leves, que ajudam na recuperação. Como antes da cirurgia estava com um bom condicionamento físico, Graças a Deus, foi tudo mais rápido, meu corpo reagiu de maneira inesperada.

Prestes a começar a reposição hormonal, e ansiosa por ela, já que meu organismo, por falta dos ovários entrou em menopausa, senti um incômodo e um sangramento estranho pós sexo. Fui ao médico, claro, gato escaldado tem medo de água fria, o Dr Juliano fez exame de toque e saiu uma espécie de coágulo na mão dele. Poderiam ser várias coisas, inclusive a volta do câncer, mas não queria desanimar, me mantive firme até o dia do retorno da biópsia: era ele de novo, quando achei que não conseguiria mais ser forte, tive que ser. Era final de ano, que tinha sido tumultuado, não queria despejar essa notícia sobre meus familiares de novo, e acabar com a feste de Natal, Ano Novo e mantive em segredo até uns dias depois da virada para 2015.

Cirurgia marcada, já sabia quais eram os preparatórios e procedimentos, me internei para cirurgia. No dia seguinte cedo, iríamos tirar o restante. Já no centro cirúrgico, as médicas vendo os resultados dos pré operatórios, ouvi: “ Nossa será que ele vai querer operar? Eu disse pra marcar consulta antes da cirurgia...” Me assustei e pensei, pronto tô morta. Perguntei o que era, e me disseram que minha glicemia estava 300 mas que deveria estar errado. Mediram na hora, e de fato estava 302. Percebi que essa atitude de ter segurado a notícia do retorno do câncer não fez bem pra mim. Logo o Dr Juliano chegou e resolveu operar mesmo assim.

Depois de horas no centro cirúrgico, lembro de falar com o Dr Juliano, ele disse que minha bexiga tinha encostado no tumor e que teria que tirar o pedaço que estava comprometido, eu disse que tudo bem e me apagaram de novo. Bem, nessa fiquei com a bexiga um terço menos do que de um adulto. E precisava ficar com sondas, isso mesmo sondas, no plural, foram duas, uma pela uretra e outra diretamente da bexiga, já que ela não poderia inflar. Onde foi feita a incisão não foi possível sutura, pois era na parte posterior, eles tiraram uma placa de gordura da minha barriga para selar o corte (cá entre nós, poderiam ter tirado um pouco a mais rsrs). Foram quatro longos meses, com sondas, dependendo do Ro para tudo, até tomar banho, me vestir, enfim tudo. Quando resolveram tirar uma das sondas, a da uretra, mas a outra ainda precisaria ficar por um tempo, para ter certeza que fechou e cicatrizou como deveria a bexiga.

Preciso confessar aqui, que era muito cômodo, rs, tinha que beber cravado pelo menos 3 litros de água por dia, para estimular a bexiga, com a sonda fica fácil, eu dormia a noite inteira como um bebê. Assim que tirou a sonda, eu parecia a mãe de recém-nascido, acordava de hora em hora para ir ao banheiro, pois a quantidade de água tinha que ser mantida.

No corpo humano temos um conjunto de músculos que chama-se assoalho pélvico, ele sustenta a bexiga, o reto, e no caso das mulheres, útero. Pois bem como fiquei muito tempo com sondas, o músculo acostumou a ficar relaxado. Resultado disso: Incontinência urinária. Descobri depois de muito tempo que existem muitas pessoas que sofrem disso, mas tem vergonha de assumir e procurar ajuda. Imagina, eu uma jovem senhora, rs, de 35 anos tendo que usar absorvente geriátrico, pois o absorvente normal não dava conta. Fui procurar ajuda, pois não aceitava isso.

Descobri que podia fazer exercícios de Protocolo Kegel (similares ao pompoarismo) que fazer o músculo retornar a si. Mas não recomendo fazer sozinhos, pois nem sempre entendemos de maneira correta, é extremamente necessária a orientação de um fisioterapeuta. A fisioterapia é um processo que é demorado, muito demorado, para o paciente, que quer ver o resultado pra já. Essa é uma das grandes batalhas do paciente, o imediatismo. Faço sesões toda sexta-feira com a fisioterapeuta e em casa todos os dias, mesmo antes de começar a radioterapia, que dessa vez não escapei.

Foram 31 sessões de teleterapia (radiação externa na região afetada) e 4 braquioterapia (radiação interna). Sempre me falaram que radioterapia não fava reação alguma, quem disse isso era o maior mentiroso do mundo, claro que não chega aos pés da quimioterapia, mas no meu caso, afetou intestino, bexiga. Gente nunca tive tanta diarreia na minha vida, e a ardência para urinar, que ainda sinto, pois fazem somente duas semanas que acabei o tratamento. A radiação leva em média 3 meses para sair do corpo e abandonar os sintomas. Mas perto do que passei, isso não é nada, incomoda, claro que sim, mas o melhor do tratamento é manter a fé de que estará curada.


Bom acho que é isso, queria agradecer pela oportunidade de contar minha história (resumida) e deixar uma dica, façam sempre seus periódicos, que eu deixei por um ano e olha o que me aconteceu. Foi um aprendizado, sempre fui imediatista demais, e isso serviu para acalmar meu coração, me transformar em uma pessoa melhor, que apesar de enérgica, um pouco mais calma, a ver a vida com outros olhos. Cabelos crescem, cortes cicatrizam, e suas cicatrizes viram marcas de guerra. Lute sempre, não desista nunca.


Um comentário:

  1. Vou morrer de saudade de vc, desse sorriso fácil, a sua gargalhada... Vc é inesquecível...

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